Segundo
as Escrituras, a encarnação do eterno Filho de Deus não foi um acontecimento
necessário emanando da natureza de Deus. Não foi o ponto culminante no
desenvolvimento da humanidade. Foi um ato de humilhação voluntária. Deus deu
seu Filho para a redenção do homem. Ele veio ao mundo para salvar seu povo dos
pecados; para buscar e salvar perdidos. Ele participou de carne e sangue a fim
de destruir, por sua morte, aquele que tinha o poder da morte, a saber, o diabo
(Hb 2.14) “E, visto como os
filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas
coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é,
o diabo”;
e libertar aqueles que, pelo temor da morte, estavam durante toda a vida
sujeitos à escravidão. Ele morreu, o justo pelos injustos, para aproximar-nos
de Deus. Esta é a constante descrição das Escrituras. Não havia outra maneira
de conseguir este fim. Isso está claramente ensinado nas Escrituras. O nome de
Cristo é o único nome pelo qual os homens podem ser salvos. Se a justiça
pudesse ser alcançada de outra maneira, então Cristo, diz o Apóstolo, morreu em
vão (Gl.
2.21) ” Não aniquilo a
graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu
debalde”. Se a lei pudesse dar vida, certamente a justiça teria
sido pela lei (Gl. 3.21). ”Logo, a lei é
contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei”..
Como o
propósito da encarnação do Filho de Deus era reconciliar-nos com Deus, e como a
reconciliação das partes inimizadas é uma obra de mediação, Cristo é chamado de
nosso mediador. Como a reconciliação é às vezes efetuada por simples
intercessão, ou negociação, a pessoa que assim eficazmente intercede pode
chamar-se mediador. Mas onde a reconciliação envolve a necessidade de
satisfação pelo pecado como cometido contra Deus, então somente ele é o
mediador que pode fazer expiação pelo pecado. Como isso foi e só poderia ser
feito por Cristo, segue-se que ele é o único mediador entre Deus e o homem. Ele
é nossa paz, que reconcilia com Deus, judeus e gentios em um só corpo pela cruz
(Ef
2.16) “E
pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades”. Portanto, para nós só há um mediador entre
Deus os homens, o homem Jesus Cristo (1Tm. 2.5) ”Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem”.
Cristo é nosso único mediador, não simplesmente porque assim o ensinam as
Escrituras, mas também porque só ele pôde cumprir e cumpre o que é necessário
para nossa reconciliação com Deus; e só ele tem as qualificações pessoais para
tal obra.
O que
tais qualificações são, as Escrituras claramente ensinam.
1. Ele teria de ser um homem. Os Apóstolos apontam
como a razão pela qual Cristo assumiu nossa natureza e não a natureza dos
anjos, ou seja, para que ele pudesse redimir-nos (Hb 2.14-16) ”E, visto como os filhos
participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para
que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo;
E livrasse todos os que, com medo da morte,
estavam por toda a vida sujeitos à servidão. Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de
Abraão”. Era necessário que ele fosse feito sob a lei a
qual quebrara-nos; que ele cumprisse toda a justiça; sofresse e morresse; fosse
capaz de solidarizar-se com seu povo em todas as suas enfermidades, e se
unir-se com ele em uma natureza comum. Aquele que santifica e aqueles que são
santificados são e tem de ser uma só natureza. Portanto, como os filhos foram
participantes de carne e sangue, assim também ele tomou parte no mesmo (Hb
2.11-14) ”Porque,
assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja
causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no
meio da congregação .E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me
aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. E,
visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das
mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte,
isto é, o diabo”.
2. O mediador entre Deus e os homens tem de ser
isento de pecado. Sob a lei, a vítima oferecida sobre o altar tinha de ser
imaculada. Cristo, que iria oferecer-se a Deus como sacrifício pelos pecados do
mundo, tinha de ser ele mesmo isento de pecado. Portanto, o sumo sacerdote que
nos convém, aquele que nossas necessidades demandam, tem de ser santo,
inocente, incontaminado e separado dos pecados (Hb 7.26 “0 Porque
nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores, e feito mais sublime do que os céus.
Ele foi, portanto, “sem pecado” (Hb. 4.15Porque
não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas;
porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”; 1Pe 2.22) “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou
engano”. Um salvador do pecado que fosse pecador é uma
impossibilidade. Ele não poderia ter acesso a Deus. Não poderia ser sacrifício
pelos pecados; e não poderia ser fonte de santidade e vida eterna para seu
povo.
3. Não era menos necessário que nosso mediador
fosse uma pessoa divina. O sangue de alguma mera criatura não podia tirar o
pecado. É tão-somente porque nosso Senhor possuía o espírito eterno, que uma
oferenda de si mesmo aperfeiçoou para sempre os que crêem. Ninguém, se não uma
pessoa divina, poderia destruir o poder de satanás e liberar os que eram
conduzidos cativos à vontade dele. Ninguém, se não a aquele que tinha vida em
si mesmo, poderia ser a fonte de vida, espiritual e eterna, para seu povo.
Ninguém, se não uma pessoa onipotente, poderia controlar todos os
acontecimentos até a consumação do plano da redenção, e poderia ressuscitar dos
mortos; e fazem-se necessário uma sabedoria e um conhecimento infinito naquele
que seria o juiz de todos os homens, e cabeça sobre todas as coisas em prol de
sua igreja. Ninguém, se não um só, em que habitasse toda a plenitude da
deidade, poderia ser o objeto, bem como a fonte, da vida religiosa de todos os
remidos.
Nas
escrituras declara-se que são essenciais tais qualificações para o oficio de
mediador entre Deus e os homens; todas são compridas em Cristo; e todas elas
foram exigidas pela natureza da obra que ele concretizar.
Todos os
atos e sofrimentos de Cristo no exercício de sua obra mediadora foram,
portanto, os atos e sofrimentos de uma pessoa divina, foi o Senhor da glória
que foi crucificado; foi o filho de Deus que derramou sua alma até a morte. O
oficio profético de Cristo pressupõe que ele possuía todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento; seu oficio sacerdotal demandava a dignidade do
filho de Deus para fazer sua obra disponível; e ninguém, se não uma pessoa
divina, poderia exercer o domínio que foi confiado a Cristo como mediador.
Somente o filho eterno poderia livrar-nos da servidão de satanás e da morte
proveniente do pecado, ou levantar os mortos, ou da vida eterna, ou vencer a
todos os seus e nossos inimigos. Necessitamos de um salvador que fosse não
apenas santo, inocente, incontaminado e separado dos pecados, mas também mais
sublime que os céus. Além das qualificações que nosso Senhor Jesus Cristo
possuía para ser um verdadeiro mediador ele ainda contava com seu tríplice
oficio “profético, sacerdotal e régio”. Ele é constantemente designado como
Senhor, como nosso dono e soberano absoluto. Nada, pois, pode ser mais claro do
que o fato de que os profetas do Velho Testamento predisseram que o Messias
seria profeta, sacerdote e rei, de sorte que o Novo Testamento descreve o
Senhor Jesus mantendo todos esses ofícios. Não se trata de uma mera descrição
figurativa, é evidente a luz do fato de que Cristo exerceu todas as funções de
profeta, sacerdote e rei. Ele não foi simplesmente chamado assim.
Portanto, se cremos e confiamos na palavra de Deus, para nós só a um
mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo (1Tm 2.5) ”Porque há
um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem
Até a
próxima, Deus abençoe.